Texto que estudaremos no próximo domingo dia 22/04:
Tema: RELACIONAMENTOS DO ADOLESCENTE FORA DO LAR
Nestes dias de rápidas mudanças no mundo — sociais, econômicas, psicológicas, morais e culturais — mesmo os adultos experientes sofrem dificuldades de ambientação. A celeridade dos acontecimentos, as ocorrências imprevistas, as transformações radicais surpreendem a todos, impondo aceitação e adaptação aparentes, sem que ocorra a compreensão do que sucede, facultando a absorção desses fenômenos perturbadores. Em razão disso, cada criatura se preocupa com a própria realidade, raramente dispondo de espaço mental e emocional para outrem, seja o parceiro, o familiar, o amigo...
Criando um círculo de relacionamento superficial, evita aprofundar os vínculos da afetividade fraternal, porque se encontra assinalada pelo condicionamento do prazer sexual, como se todas as expressões do sentimento devessem converter‐se em comportamento dessa natureza.
Os interesses mesquinhos em predominância assustam, e cada qual procura defender‐se da agressão desnecessária do outro, da competição cruel e desonesta do seu próximo, que lhe deseja tomar o lugar, utilizando‐se de recursos ignóbeis, desde que triunfe...
Justificando‐se preservação da identidade, da intimidade, cada indivíduo busca precatar‐se dos demais e refugia‐se no egoísmo, disfarçando socialmente os seus conflitos e procurando conquistar ou manter o lugar que lhe parece constituir meta, como forma de realização pessoal.
A família, que se deveria apresentar harmônica, por falta de estrutura dos pais, principalmente, que se encontram aturdidos nos próprios conflitos, transforma‐se em um campo de choques emocionais, nos quais os filhos se tornam as vítimas imediatas.
Insegurança, medo, tormento conflitam as mentes em formação, e a falta de amparo afetivo dos genitores atira os jovens na busca de outras experiências e outros padrões que sejam compatíveis com as necessidades que experimentam.
Não encontrando, no lar, a compreensão ou a amizade segura, buscam nos amigos, igualmente instáveis e sem formação ética, o relacionamento, o entendimento, a linguagem para a convivência, poupando‐se ao drama da solidão, da apatia, da depressão.
Por outro lado, devido à necessidade da conquista de identificação pessoal, fora dos padrões impostos pela família, assim como da afirmação sexual, desconfiam dos valores adotados no lar, buscando relacionamentos que compatibilizem com as suas aspirações, formando grupos de afinidade ideológica e comportamental.
No lar, às vezes, pais indiferentes aos seus problemas, ou dominadores, que não lhes respeitam as transições fisiológica e psicológica, frustram os seus ideais e os tornam inaptos para uma existência madura, harmônica e responsável.
A afirmação do “si” leva o jovem a enfrentar as barreiras domésticas impeditivas, os fatores agressivos e desequilibrantes, apresentando‐se como rebelde e violento; através dessa conduta arrebenta os grilhões que lhe parecem aprisionar em casa. Noutras vezes, uma aparente resignação asfixia a revolta natural que lhe brota no íntimo, vindo a torná‐lo melancólico mais tarde, subserviente, receoso, despersonalizado, que para sobreviver na sociedade se adapta a todas e quaisquer circunstâncias, sem jamais realizar‐se.
Tornando‐se taciturno, tende a patologias conflitivas de transtorno neurótico como psicótico, graças às frustrações que não sabe digerir, interiorizando‐se e tomando horror pela sociedade, que lhe representa o grupo social do lar turbulento e instável onde vive.
Os jovens da década dos anos cinquenta foram denominados como geração silenciosa, vítimas da Segunda Guerra Mundial, dos distúrbios emocionais e sociais da Guerra Fria e das incertezas proporcionadas pelos muitos conflitos localizados em diferentes países, particularmente no sudeste da Ásia, em um período no qual aparentemente, o mundo estava em paz...
Esses conflitos gerais refletiam‐se na insegurança que predominava na sociedade, nos governos, nas Instituições, sendo absorvidos pelos jovens que, não sabendo como lidar com a alta carga de emoções desordenadas, silenciaram, buscaram refúgio no mundo íntimo, assumindo postura soturna, sem expectativa de triunfo, sem solução de fácil ou significativa conquista.
Na década seguinte, a de sessenta, face ao desgoverno reinante nos países do denominado Primeiro Mundo e às constantes ameaças de destruição que pairavam no ar, em toda parte, surgiu a geração do desespero, do consumo de drogas alucinógenas, aditivas, da música ensurdecedora que expressava sua revolta, da pintura agressiva, do sexo desvairado. A solidão vivida pelos jovens levou‐os a formarem tribos, a realizarem espetáculos de música desesperada, de promiscuidade comportamental, de agressividade, dando nascimento ao período hyppie...
A socialização da criatura humana, quando não se dá em alto padrão de equilíbrio, tende a fazer‐se perturbadora, sem estrutura ética, tombando no desvario que leva à delinquência, porque o homem e a mulher são intrinsecamente animais sociais.
Torna‐se urgente a reestruturação da família, que jamais será uma instituição falida, porque é a pedra angular da sociedade, o primeiro grupo onde o ser experimenta a dádiva do convívio, da segurança emocional, da experiência moral.
É compreensível, portanto, que o adolescente realize a busca de novos relacionamentos fora do lar, sejam eles conflitantes ou não, a depender da tendência do mesmo, das suas aspirações e afinidades, onde experimentará a autorrealização, dando início ao futuro círculo social de amigos no qual se movimentará.
Há, em todas as criaturas, e no jovem especialmente, necessidade de novas experiências, que não tenham lugar na família, e o grupo humano é o grande e oportuno laboratório para as pesquisas e vivências que irão completar‐lhe o desenvolvimento e amadurecimento social, moral e emocional.
Não seja, pois, de surpreender, que o adolescente pareça fugir do lar para a rua na busca de novos relacionamentos. Quando a família lhe oferece segurança e compreensão, ele amplia o seu grupo de relações sem rupturas domésticas, adicionando outras pessoas da mesma faixa etária e aspirações idênticas, que conviverão em harmonia e progresso, sem clima de fuga ou de agressividade.
Esse é um passo decisivo para estruturação do caráter, da personalidade e do amadurecimento do adolescente, que se desenvolve, para o mundo em constantes mudanças de maneira saudável e equilibrada.
Estimular‐lhe o desenvolvimento na criação de grupos de sadio relacionamento social é tarefa que compete aos pais também, em benefício de uma formação equilibrada na área do comportamento dos filhos.