A VIOLÊNCIA NO CORPO E NA MENTE DO ADOLESCENTE
A adolescência sempre foi considerada um período difícil no desenvolvimento do ser humano,
com mais desafios do que na infância, criando embaraços para o próprio
jovem como para os seus pais e todos aqueles que com ele convivem. Trezentos anos
antes de Cristo, Aristóteles escrevera que os adolescentes são impetuosos, irascíveis e
tendem a se deixar levar por seus impulsos, demonstrando uma certa irritabilidade em
relação ao comportamento juvenil. Por sua vez, Platão desaconselhava o uso de bebidas
alcoólicas pelos jovens antes dos dezoito anos, em razão da rápida excitabilidade dos mesmos, e
propunha: Não se despejar fogo sobre fogo.
Os conceitos sobre a adolescência sempre ganharam aceitação,
particularmente quando de natureza censória, intolerante.
No século XVII, em sermão fúnebre, um clérigo afirmava que a juventude era
como um navio novo lançado ao oceano sem um leme, sem lastro, ou piloto para dirigi-lo, como
resultado de uma observação externa, sem aprofundamento, de modo que se
pudesse compreender as significativas transformações que se operam no ser em
formação, compelindo‐o para as atitudes anticonvencionais, período assinalado por
mudanças estruturais.
Essas mudanças, que se operam na forma física, repercutem significativamente na conduta
psicológica, propondo diferentes relacionamentos com os companheiros,
experimentando novos modelos educacionais, vivenciais, enquanto todo ele se encontra
em maturação biológica apressada, sem precedentes na sua história orgânica. Nesse
período, compreensivelmente, surgem os conflitos de identidade, em tentativas internas
de descobrir quem é e o que veio fazer aqui na Terra. Logo depois surgem‐lhe as
indagações de como conduzir‐se e qual a melhor maneira de aproveitar o período
promissor, sem o comprometimento do futuro.
Esse estado de mudanças pode ser breve, nas sociedades mais simples, mais
primitivas, ou prolongado, nas tecnologicamente mais desenvolvidas, podendo dar‐se de
maneira abrupta, ou através de uma gradual transição das experiências antes
vivenciadas para as atuais desafiadoras. Em todas as culturas, porém, apresenta‐se com
um caráter geral de identidade: alterações físicas e funcionais da puberdade,
assinalando‐lhe o início inevitável.
Os hormônios, que desempenham um fundamental papel na transformação orgânica e na
constituição dos elementos secundários do sexo, igualmente interferem na
conduta psicológica, fazendo ressuscitar problemas que se encontravam adormecidos
no inconsciente profundo, na memória do Espírito reencarnado. Isto porque, a
reencarnação é oportunidade de refazimento e de adestramento para desafios sempre
maiores em relação ao si, na conquista da imortalidade. Na adolescência, em razão das
transformações variadas, antigos vícios e virtudes ressumam como tendências e
manifestam‐se, exigindo orientação e comando, a fim de serem evitados novos e mais
graves cometimentos morais perturbadores.
Localizada na base do cérebro, a hipófise tem importância especial na proposta
do desenvolvimento da puberdade. Os seus hormônios permanecem inibidos até o
momento que sucede um amadurecimento das células do hipotálamo, que lhe enviam
sinais específicos, a fim de que os libere. Tal fenômeno ocorre em diferentes idades,
nunca sendo no mesmo período em todos os organismos.
Esses hormônios são portadores de uma carga muito forte de estímulos sobre
as demais glândulas endócrinas, particularmente a tireoide, a adrenal, os testículos e os
ovários, que passam a produzir e ativar os seus próprios, responsáveis pelo crescimento
e pelo sexo. Surgem, então, os androgênios, os estrogênios e as progestinas, estas
últimas responsáveis pela gravidez. No metabolismo geral, todos eles interagem de
forma que propiciem o desenvolvimento físico e fisiológico simultâneos.
Nesse período de transformações orgânicas acentuadas, o adolescente, não
poucas vezes, sente‐se estranho a si mesmo. As alterações experimentadas são tão
marcantes que ele perde o contacto com a sua própria realidade, partindo então para o
descobrimento de sua identidade de forma estranha, inquieta, gerando distúrbios que se
podem acentuar mais, caso não encontre orientação adequada e imediata.
Em razão da dificuldade de identificação do si, o jovem tem necessidade de
ajustar‐se à imagem do seu corpo, detendo‐se nos aspectos físicos, sem uma percepção
correta da realidade, o que o conduz a conclusões equivocadas, a respeito de ser amado
ou não, atraente ou repulsivo, por falta de uma capacidade real para a avaliação.
Nas meninas, o ciclo menstrual surge de uma forma desafiadora e quase
sempre causa surpresa, reação prejudicial, quando não estão preparadas, por ignorarem
que se trata de um ajustamento fisiológico, ao mesmo tempo símbolo de maturidade
sexual. A desorientação pode deixar sinais negativos no seu comportamento,
particularmente sensações físicas dolorosas, rejeição e irritabilidade, na área
psicológica, após a menarca. Outras sequelas podem ocorrer na pré ou na pós‐menstruação,
exigindo terapia própria.
Os rapazes, por sua vez, se não esclarecidos, podem ser surpreendidos com os
fenômenos sexuais espontâneos, como a ereção incontrolada e as ejaculações
desconhecidas. Nessa fase eles vivem um espaço no qual tudo pode tomar características
de manifestação sexual: odor, som, linguagem, lembrança... Não sabendo ainda como
administrar essas manifestações espontâneas do organismo, embaraçam‐se e
descontrolam‐se com relativa facilidade.
Certamente, os jovens da atualidade se encontram muito mais informados do
que os outros das gerações passadas, não obstante esses conhecimentos estejam muito
distorcidos na mente juvenil, o que perturba aqueles de formação tímida ou portadores de qualquer
distúrbio ainda não definido.
A questão da maturação sexual nos jovens não tem período demarcado,
podendo ser precoce ou tardia, que resulta em estados de apreensão ou desequilíbrio,
insegurança ou audácia, a depender da personalidade, no caso, do Espírito reencarnado
com o patrimônio dos méritos e dívidas.
O amadurecimento psicológico faz‐se, nessa ocasião, com maior rapidez do que
na infância. Há mudanças cognitivas muito fortes, que desempenham um papel crítico
para o jovem cuidar das demandas educacionais, sociais, vocacionais, políticas,
econômicas, sempre cada dia mais complexas.
As alterações nos relacionamentos, entre pais e filhos, propõem necessidade de
maior intercâmbio no lar, a fim de proporcionar um desenvolvimento psicológico
saudável, quanto intelectual, equilibrado.
Uma outra questão muito significativa do momento da adolescência é o conflito
entre o real e o possível, vivenciado pelo jovem em transição. Ao constatar que o real
deixa‐lhe muito a desejar, porque se encontra num período de enriquecimento psíquico,
torna‐se rebelde e transtorna‐se, o que não deixa de ser uma característica transitória
do seu comportamento.
A harmonia que se deve estabelecer entre o físico e o psíquico, libertando o
adolescente da violência existente no seu mundo interior, será conseguida a esforço de
trabalho, de orientação, de vivências morais e espirituais, o que demanda tempo e
amadurecimento, compreensão e ajuda dos adultos, sem imposições absurdas,
geradoras de outras agressões
Fonte: Franco, Divaldo P., pelo espírito Joana de Angelis. Adolescência e Vida. Disponível em http://www.luzespirita.org.br/
leitura/pdf/L102.pdf.