O
adolescente: possibilidades e limites
Na quadra primaveril da adolescência tudo parece fácil, exatamente
pela falta de vivência da realidade humana. O adolescente examina o mundo
através das lentes límpidas do entusiasmo, quando se encontra em júbilo, ou
mediante as pesadas manchas do pessimismo que no momento lhe dominam as
paisagens emocionais. A realidade, no entanto, difere de uma como de outra
percepção, sem os altos vôos do encantamento nem os abismos profundos do
existencialismo negativo.
A vida é um conjunto de possibilidades que se apresentam para ser experimentadas,
facultando o crescimento intelecto‐moral dos seres. A forma como cada pessoa se utiliza desses
recursos redunda no êxito ou no desar, não sendo a mesma responsável pela
glória ou pelo insucesso daqueles que a buscam e nela se encontram envolvidos.
Para o jovem sonhador, que tudo vê róseo, há muitos caminhos a
percorrer, que exigem esforço, bom direcionamento de opção e sacrifício. Toda
ascensão impõe inevitável cota de dedicação, como é natural, até que a
conquista dos altiplanos delineie novos horizontes ainda mais amplos e
fascinantes.
Assim, as possibilidades do adolescente estão no investimento que
ele aplica para a conquista do que traça como objetivo. Nesse período, tem‐se pressa, porque todas as
manifestações são rápidas e os acontecimentos obedecem a um organograma que não
pode ser antecipado, esperando que se consumem os mecanismos propiciatórios à
sua realização.
Ansioso pelos voos que pretende desferir, pensa que as suas aspirações
podem ser transformadas em realidade de um para outro momento, e, quando isso
não ocorre, deixa‐se
abater por graves frustrações e desânimo. No entanto, através desse vaivém de alegria
e desencanto passa a entender que os fenômenos existenciais independem das suas
imposições, provindo de muitos fatores que se conjugam para oferecer resultado correspondente.
Nessa sucessão de contrários, amadurece‐lhe a capacidade de
compreensão e aprimora‐se a
faculdade de planejar, auxiliando‐o a colocar os pés no chão sem a perda do otimismo, que é fator
decisivo para o prosseguimento das aspirações e da sua execução contínua.
Face à constituição da vida, não basta anelar e querer, mas
produzir e perseverar. Esse meio de levar adiante os planos acalentados demonstra
que há limites em todos os indivíduos, que não podem ser ultrapassados, e que
se apresentam na ordem social; moral, econômica, cultural, científica, enfim,
em todas as áreas dos painéis existenciais.
Os acontecimentos são conforme ocorrem e não consoante se gostaria
que sucedessem, isto é, nadar contra a correnteza pode exaurir o candidato que
vai atirado à praia, onde chega após grandes conquistas e ali morre sem
alcançar a vitória.
A sabedoria, que decorre das contínuas lutas, demonstra que se
deve realizar o que é possível, aguardando o momento oportuno para novos
cometimentos. Especificamente, cada dever tem o seu lugar e não é lícito
assumir diversos labores que não podem ser executados de uma só vez.
A própria organização física constitui limite para todos os
indivíduos. Quando se exige do organismo além das suas possibilidades, os
efeitos são negativos, portanto, desanimadores. Daí, o limite se encontra na
capacidade das resistências física, moral e mental, que constituem os elementos
básicos do ser humano, e no enfrentamento com os imperativos da sociedade, da
época em que se vive, etc.
Certamente, há homens e mulheres que se transformaram em exceção, havendo
pago pesados ônus de sacrifício, graças ao qual abriram à História páginas de incomparável
beleza. Simultaneamente, também, houve aqueles que mergulharam no fundo abismo
do desencanto, deixando‐se
dominar por terríveis angústias que lhes estiolaram a alegria de viver e os
maceraram, levando‐os a
estados profundamente perturbadores, porque não possuíam essas energias
indispensáveis para as conquistas que planejaram.
Ao moço compete o dever de aprender as lições que lhe chegam,
impregnando-se das suas mensagens e abrindo novos espaços para o futuro. Quando
arrebatado pelo entusiasmo, considerar que há tempo para semear como o há para
colher; quando deprimido, liberar‐se das sombras pelo esforço de ascender às regiões onde brilha a
luz da esperança, compreendendo que a marcha começa no primeiro passo, assim
como o discurso mais inflamado tem início na primeira palavra. Todas as coisas
exigem planificação e tentativa. Aquele que se recusa experimentar, já perdeu
parte do empreendimento. Não há por que recear o insucesso. Esse medo da
experimentação já é, em si mesmo, uma forma de fracasso. Arriscar‐se, no bom sentido do termo,
é intensificar os esforços para produzir, mesmo que, aparentemente, tudo esteja
contra. Não realizando, não tentando, é claro que as possibilidades são
infinitamente menores. Sempre vence aquele que se encontra alerta, que labora,
que persiste.
A atitude de esperar que tudo aconteça em favor próprio é
comodidade injustificável; e deixar‐se abater pelos pensamentos pessimistas, assim como pelas heranças
autodepreciativas, significa perder as melhores oportunidades de crescimento interior
e exterior, que se encontram na adolescência. Esse é o momento de programar; é
o campo de experimentação.
Quando o jovem começa a delinear o futuro não significa que haja
logrado a vitória ou perdido a batalha, apenas está traçando rotas que o levarão
a um ou a outro resultado, ambos de muito valor na sua aprendizagem, em torno
da vida na qual se encontra.
A perseverança e o idealismo sem excesso responderão pelo
empreendimento iniciado. O adolescente não deve temer nunca o porvir, porquanto
isso seria limitar as aspirações, nem subestimar as lições do cotidiano, que
lhe devem constituir mensagens de advertência, próprias para ensinar‐lhe como conseguir os
resultados superiores.
Assim, nesse período de formação, de identificação consigo mesmo,
a docilidade no trato, a confiança nas realizações, a gentileza na afetividade,
o trabalho constante, ao lado do estudo que aprimora os valores e desenvolve a
capacidade de entendimento, devem ser o programa normal de vivência. Os
prazeres, os jogos apaixonantes do desejo, as buscas intérminas do gozo cedem
lugar aos compromissos iluminativos, que desenham a felicidade na alma e
materializam‐na
no comportamento.
Ser jovem não é, somente, possuir força orgânica, capacidade de
sonhar e de produzir, mas, sobretudo, poder discernir o que precisa ser feito,
como executá‐lo e
para que realizá‐lo.
A escala de valores pessoais necessita ser muito bem considerada,
a fim de que o tempo não seja empregado de forma caótica em projetos de
secundária importância, em detrimento de outros labores primaciais, que
constituem a primeira meta existencial, da qual decorrerão todas as outras
realizações.
São infinitas, portanto, as possibilidades da vida, limitadas
pelas circunstâncias, pelo estágio de evolução de cada homem e de cada mulher,
que devem, desde adolescentes, programar o roteiro da evolução e seguir com
segurança, etapa a etapa, até o momento de sua auto-realizarão.
Fonte:
Franco, Divaldo P., pelo espírito Joana de Angelis. Adolescência e Vida. Disponível em
http://www.luzespirita.org.br/leitura/pdf/L102.pdf