quinta-feira, 20 de agosto de 2015

ESTUDO DO DIA 23/08/2015 – RECOMPENSAS E CASTIGOS

Texto que estudaremos no próximo domingo dia 23/08/2015:

Tema: RECOMPENSAS E CASTIGOS
O perigo de recompensar uma criança não é tão sério como o de castigá-la. Recompensas são coisas supérfluas e negativas. Oferecer um prêmio por fazer algo é o mesmo que declarar que esse algo não vale a pena de ser feito por si mesmo.
A outorga de recompensas tem um mau efeito psicológico sobre a criança, porque faz surgir ciúmes. A antipatia de um menino por seu irmão mais moço data do momento em que a mãe comentou:
- Teu irmãozinho sabe fazer isso melhor do que tu.
Para o menino, aquele comentário é uma recompensa dada ao irmão por ser melhor do que ele.
Tanto a recompensa como o castigo tendem a pressionar a criança para o terreno do interesse. Mas o verdadeiro interesse é a força vital de toda a personalidade, e tal interesse é completamente espontâneo. É possível forçar a atenção porque a atenção é um ato consciente, porém não se pode forçar o interesse. Homem algum pode ser forçado a interessar-se, digamos, em colecionar selos e nós próprios não podemos nos forçar a isso. Tanto a recompensa como o castigo tentam forçar o interesse.
Uma recompensa deveria ser, na maior parte das vezes, subjetiva: a auto-satisfação pelo trabalho realizado.
Se uma criança aprende a ler e a contar, será por ter interesse nesses assuntos, não por causa da bicicleta nova que irá ganhar pela excelência de seu estudo. Devemos estimular o interesse da criança através do diálogo com argumentação racional, demonstrando claramente à criança a importância da leitura e sua necessidade nas mínimas coisas do cotidiano, como ler a bula de um remédio, a receita do médico, as placas de orientação na rua, as compras no supermercado e, principalmente, ajudá-la na descoberta do prazer de aprender.
O medo paternal do futuro é perigoso quando se expressa em sugestões que se aproximam do suborno:
- Quando aprenderes a ler, querido, o papai te comprará um patinete.
Isso é uma fórmula que leva à aceitação de nossa civilização lívida, sempre em busca de proveitos. Os pais devem dar, sem procurar receber nada em troca.
O castigo é por vezes um ato de ódio, criando um círculo vicioso. Pancadas são ódio expandido e cada surra tende a criar mais ódio na criança. Então, como esse ódio crescente é expressado em comportamento ainda pior, mais  surras são aplicadas. E esse segundo-tempo de espancamento acrescenta dividendos de ódio na criança. O resultado é um pequeno odiento de maus modos, casmurro, destruidor, tão calejado no que se refere a castigos que peca para provocar alguma forma de resposta emocional por parte de seus pais. Porque mesmo uma resposta hostil servirá, quando não há a emoção do amor. E assim a criança é espancada – e se arrepende. Mas na manhã seguinte o mesmo ciclo recomeça.
O castigo pode inibir através do medo. Se um pai se satisfaz com um filho cujo espírito foi completamente despedaçado pelo medo, então para tal pai, o castigo vale a pena. A criança castigada realmente se torna cada vez pior. E, o que é mais grave, cresce para ser um pai, ou uma mãe amigos de infligir castigos. E o ciclo do ódio continua através dos anos.
No livro Distúrbios na Infância, Wanderley Pereira cita como exemplo a pedagogia no Evangelho: “Já no Novo Testamento, mais especificamente no Evangelho de Lucas, vamos encontrar uma pedagogia bem diferente nas relações de família e educação dos filhos. Tomemos como modelo a família de Jesus aos 12 anos, na narrativa constante do capítulo 2, versículo 48, quando Maria e José voltam a Jerusalém para procurá-lo e o encontram no Templo, sentado dialogando com os doutores. Vejamos como a Mãe, de uma educação espiritual elevada, repreende o filho, mostrando-lhe no próprio tom de voz que Ele havia negligenciado os seus limites em relação aos cuidados dos pais. “Meu filho, que nos fizeste? Eis que teu pai e eu andávamos à tua procura, cheios de aflição”. Como vemos, Maria, apesar de aflição sofrida com o marido José, não grita com Jesus, mas também não silencia ante a atitude do menino. Repreende-o amorosamente, de uma forma educada, com a intenção de tocar-lhe o íntimo, como a dizer-lhe que não fizesse mais aquilo, porque assim procedendo faria sofrer pai e mãe com a aflição desnecessária.
É essa pedagogia do Evangelho que deve ser transmitida aos pais para que eles a repassem por sua vez aos filhos, ensinando-os a amá-los e não a temê-los, a obedecê-los por amor, por uma compreensão íntima, por uma necessidade agradável, e nunca por ameaças nem por medo.” Prossegue citando várias opiniões de especialistas sobre a aplicação da palmada: “Embora socialmente aceita, é cada vez mais crescente o número de psicólogos que a condenam. “A palmada deseduca” é o título de uma campanha lançada por especialistas do Laboratório de Estudos da Criança do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP). O objetivo foi mostrar aos pais que há outras maneiras de educar sem violência. Os psicólogos se miram no exemplo de países como Noruega, Dinamarca, Suécia, Israel, onde a prática da palmada pode ser punida por lei. Mas outros admitem a tapinha eventual. É o caso do psicoterapeuta Ari Rehfeld, de São Paulo, para quem na maioria das vezes a palmada é dispensável, “mas em alguns momentos, quando a criança extrapola todos os limites, é até permitida”. Para ele, entretanto, o ideal é não bater. Quando Rehfeld falou isso a Isto é, edição de 15/11/00, ele era, segundo a revista, supervisor da Clínica Psicológica da PUC paulista. A professora da Escola Nacional de Saúde Pública do Rio de Janeiro, Maria Cecília Minayo concorda com ele. “Uma palmada não é pior do que a violência psicológica, largamente utilizada nas famílias de classe média.”
“A educadora Tânia Zagury sustenta que os pais têm a ilusão de que os castigos físicos produzem resultados imediatos. “Mas não conseguem resultado educacional”, rebate. No seu livro Limites sem Trauma, ela explica de forma didática porque bater não faz sentido: “Porque bater nada tem a ver com ensinar a ter limites; na verdade são atitudes até opostas. Quem bate dá uma verdadeira aula de falta de limites próprios e até de covardia. E enumera mais uma série de razões, além de uma lista de argumentos mostrando o que é que a palmada realmente ensina. Entre outras coisas, “a temer o maior, o mais forte ou o mais poderoso; que o comportamento agressivo é válido; que a agressão física é uma atitude normal e praticável; que a força bruta é mais importante que a razão e o diálogo; que ocultar ou omitir fatos pode dar bons resultados e evitar umas boas palmadas; que de quem se espera amor podem vir pancadas e agressão”. Logo, para seres inteligentes é preciso buscar meios inteligentes de educá-los, com amor, sem perder a autoridade, para ensinar-lhes, desde cedo, a perceber e aceitar limites.
 

Fonte de Pesquisa: Carneiro, Tânia Maria Farias e Barreto, Eryka Florenice Pinheiro (organizadoras). Guia Útil dos Pais – Uma Abordagem Educacional Espírita – 2ª Edição – Fortaleza – CE: Edições GEPE – Grupo Espírita Paulo e Estevão, 2004. (Área de Ensino). 116 a 119p.
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