quinta-feira, 21 de março de 2013

TEXTO PARA ESTUDO DOMINGO 24 03 2013


CRIANÇAS ESPECIAIS
Todas as crianças são especiais, porque cada uma é uma individualidade sagrada e rica. Mas aqui queremos nos referir particularmente às crianças que fogem, de um modo ou de outro, ao padrão médio de normalidade. As crianças com problemas de desenvolvimento, com sub ou superdotação intelectual, crianças com desajustes emocionais – todas elas merecem estudos de médicos, psicólogos e educadores em todo o mundo. Aliás, alguns dos métodos pedagógicos desenvolvidos nesse século para crianças normais partiram de métodos antes aplicados a crianças excepcionais – como o de Montessori e o de Decroly. Interessa-nos o aspecto espiritual da questão, até agora não desvendado.
A deficiência mental tem geralmente uma causa física bem identificável: pode, por exemplo, ser provocada por um problema genético (como no caso da síndrome de Down) ou uma lesão cerebral (ocorrida na hora do parto ou durante alguma convulsão). Pode , às vezes, também ser consequência passageira de algum distúrbio psíquico.
Em qualquer caso, entretanto, trata-se de uma incapacidade momentânea de manifestação do Espírito e não uma incapacidade intrínseca da alma encarnada. Kardec comprovou isto ao evocar Espíritos de crianças deficientes e que, fora do corpo, tinham grande lucidez espiritual. Isso também se observa diariamente pelo fato de que, em muitos casos de deficiência, os diagnósticos médicos são taxativos, descartando qualquer possibilidade de desenvolvimento. Mas, quando estimulada convenientemente e quando revela vontade forte, a criança ultrapassa de muito os prognósticos pessimistas. O que é isto, senão o Espírito inteligente que, apesar dos obstáculos para a sua manifestação, luta e consegue, pelo menos em parte, superar os limites do corpo?
O nascimento de crianças excepcionais é um desses fatos que só se pode explicar inteiramente pela lei da reencarnação. As deficiências mentais (e evidentemente as físicas também) são sempre resultados de processos cármicos, cujas origens desconhecemos. Mas podemos indicar suas características principais.
Espíritos que abusaram demasiado da inteligência, empregando-a em prejuízo de si próprios e do próximo podem ter encarnações expiatórias, em que se sintam tolhidos para usá-la em sua integridade. Geralmente, são Espíritos que desenvolveram pouco o sentimento. Enquanto, pois, não podem manifestar a plenitude de suas faculdades intelectuais na carne, são obrigados a arranjar outras formas de comunicação com o ambiente e por isso, muitas vezes, mostram-se extremamente afetivos. A inteligência descansa, mas o Espírito progride, aprendendo a sentir. Isso se observa com muita clareza nas crianças de síndrome de Down – afetuosíssimas, em sua maioria.
Espíritos comprometidos em séculos de crimes e malbaratamento das Leis da vida, atingem tal estado de desequilíbrio espiritual, que só a reencarnação lhes pode aliviar a consciência. É que a carne age como uma espécie de mataborrão. Ao seu contato, o Espírito amortece as dores agudas da consciência e pode resgatar dívidas, reequilibrando-se para o futuro. Mas, quando ainda no plano espiritual, se vê abismado em profunda loucura, não pode, ao reencarnar, moldar um corpo normal e, assim, imprime na sua formação genética as lesões gravíssimas, que vão resultar em corpos defeituosos e incapacitados.
Nesses casos, não se pode esperar um desenvolvimento pleno da personalidade atual, mas não devemos esquecer que essa expiação estará servindo para a melhoria da personalidade espiritual. E essa personalidade espiritual sempre pode ser atingida, se não pela comunicação verbal, certamente pela linguagem do amor.
A superdotação é outro tema complexo, que é preciso analisar com critério. Em primeiro lugar, deve-se tomar cuidado na identificação de um superdotado, pois há muita superdotação artificial. Qualquer criança, submetida a uma estimulação intensa, pode se revelar precoce. Aliás, uma estimulação exagerada e unilateral pode causar distúrbios psíquicos e, como ela é sempre feita por motivo de vaidade ou de interesse econômico dos adultos, acaba por deformar a personalidade da criança.
Assim são os casos de músicos ou esportistas, por exemplo, que desde a mais tenra idade sofrem um treinamento massacrante, tornando-se exímios em certa atividade. Podem conquistar fama e dinheiro fácil, mas são sempre pessoas profundamente desajustadas e infelizes, porque não se desenvolveram de maneira natural e integral.
Quando legítima, ou seja, espontânea e não provocada, a superdotação pode se revelar por um talento específico ou por uma inteligência geral acima da média. Pode-se observar uma criança superdotada, entre outros traços, pelo sue pensamento criativo, pela intensidade e profundidade com que se envolve em assuntos de seu interesse, pela superioridade geral de seu raciocínio em comparação com as crianças de sua idade e, ainda, pela extrema facilidade em alguma área do conhecimento.
Faça-se porém importante parêntese: uma determinada superdotação intelectual não implica necessariamente em evolução moral do Espírito encarnado. Há muitos homens e mulheres que desenvolvem predominantemente a inteligência, em detrimento das qualidade morais. Ao renascerem, podem revelar esse desenvolvimento anterior desde cedo, mas nem por isso possuem elevação moral. Aliás, muitas vezes até, são Espíritos comprometidos com sérios desvios das Leis Divinas.
Poderíamos também falar de uma espécie de superdotação moral, coisa nunca mencionada: são as crianças que revelam desde cedo uma superioridade moral em relação ao meio – estas sim podem ser consideradas como reencarnação de Espíritos avançados.
O desajuste emocional pode se manifestar em forma de inquietação, agressividade, choro excessivo, medo, pesadelos, insônia e até prejudicar o desenvolvimento físico e cognitivo. As causas do problema podem ser as mais variadas. É preciso distingui-las.
Pela sua extrema maleabilidade psíquica, a criança absorve facilmente os reflexos vibratórios e emocionais do ambiente. Diante de um comportamento anormal de sua parte, deve-se antes de mais nada procurar as causas na atmosfera psíquica que a cerca. Mesmo que os adultos não demonstrem agressividade, desespero, angústia e outros sentimentos negativos e os trancafiem dentro de sim nem por isso as crianças, desde o berço, deixam de senti-los, de captá-los e de manifestá-los, se eles existirem no íntimo das pessoas que as acompanham.
Não só o estado emocional explícito ou embutido dos adultos, mas igualmente atitudes e orientação educacional inadequadas em relação á própria criança produzem desajustes emocionais profundos: por exemplo, tapas, gritos, repreensões severas ou indiferença, rejeição e abandono... Esses fatores foram largamente estudados por várias correntes psicopedagógicas. Aqui nem nos referimos às aberrações, infelizmente não tão raras, como o abuso sexual e pancadaria – que obviamente chegam a abalar a personalidade da criança por toda a vida e talvez até além.
Outras condições, muito comuns em nossa sociedade atual, também podem ser causa de anormalidades emotivas numa criança: o impedimento de dar livre curso à sua criatividade, à sua energia física e psíquica, o viver sempre em ambientes fechados, onde não possa mexer em nada, levando uma vida muito contrária à sua natureza expansiva e criadora; excesso de atividades passivas, como as desenvolvidas nas escola atual, muitas horas de televisão por dia, contato com literatura e cinema de conteúdo violento ou pornográfico, ou mesmo experiências vividas nestes setores etc.
Mas existem também causas espirituais. As crianças podem revelar desde cedo desequilíbrios emocionais, trazidos do passado, ou podem ainda sentir influências negativas de Espíritos obsessores, ligados a ela e à família. Entretanto, só se pode identificar com toda a certeza se um desequilíbrio emotivo provém dela própria ou de Espíritos perturbadores, quando as causas ambientais estiverem eliminadas. Ou seja, em uma criança que vive num ambiente saudável, alegre, tranquilo, onde sejam cultivadas a prece, conversas elevadas, limpeza material e moral e ainda assim persistirem os desajustes, então eles serão de fato originários dela própria. Mas todo esse ambiente positivo é o primeiro requisito de qualquer terapia. 

Fonte: INCONTRI, Dora. A Educação Segundo o Espiritismo. Bragança Paulista: Editora Comenius, 2006.


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