CRIANÇAS ESPECIAIS
Todas
as crianças são especiais, porque cada uma é uma individualidade sagrada e
rica. Mas aqui queremos nos referir particularmente às crianças que fogem, de
um modo ou de outro, ao padrão médio de normalidade. As crianças com problemas
de desenvolvimento, com sub ou superdotação intelectual, crianças com
desajustes emocionais – todas elas merecem estudos de médicos, psicólogos e
educadores em todo o mundo. Aliás, alguns dos métodos pedagógicos desenvolvidos
nesse século para crianças normais partiram de métodos antes aplicados a
crianças excepcionais – como o de Montessori e o de Decroly. Interessa-nos o
aspecto espiritual da questão, até agora não desvendado.
A
deficiência mental tem geralmente uma causa física bem identificável: pode, por
exemplo, ser provocada por um problema genético (como no caso da síndrome de
Down) ou uma lesão cerebral (ocorrida na hora do parto ou durante alguma
convulsão). Pode , às vezes, também ser consequência passageira de algum
distúrbio psíquico.
Em
qualquer caso, entretanto, trata-se de uma incapacidade momentânea de
manifestação do Espírito e não uma incapacidade intrínseca da alma encarnada.
Kardec comprovou isto ao evocar Espíritos de crianças deficientes e que, fora
do corpo, tinham grande lucidez espiritual. Isso também se observa diariamente
pelo fato de que, em muitos casos de deficiência, os diagnósticos médicos são
taxativos, descartando qualquer possibilidade de desenvolvimento. Mas, quando
estimulada convenientemente e quando revela vontade forte, a criança ultrapassa
de muito os prognósticos pessimistas. O que é isto, senão o Espírito
inteligente que, apesar dos obstáculos para a sua manifestação, luta e
consegue, pelo menos em parte, superar os limites do corpo?
O
nascimento de crianças excepcionais é um desses fatos que só se pode explicar
inteiramente pela lei da reencarnação. As deficiências mentais (e evidentemente
as físicas também) são sempre resultados de processos cármicos, cujas origens
desconhecemos. Mas podemos indicar suas características principais.
Espíritos que abusaram demasiado da inteligência,
empregando-a em prejuízo de si próprios e do próximo podem ter encarnações
expiatórias, em que se sintam tolhidos para usá-la em sua integridade.
Geralmente, são Espíritos que desenvolveram pouco o sentimento. Enquanto, pois,
não podem manifestar a plenitude de suas faculdades intelectuais na carne, são
obrigados a arranjar outras formas de comunicação com o ambiente e por isso,
muitas vezes, mostram-se extremamente afetivos. A inteligência descansa, mas o
Espírito progride, aprendendo a sentir. Isso se observa com muita clareza nas
crianças de síndrome de Down – afetuosíssimas, em sua maioria.
Espíritos comprometidos em séculos de crimes e
malbaratamento das Leis da vida, atingem tal estado de desequilíbrio
espiritual, que só a reencarnação lhes pode aliviar a consciência. É que a
carne age como uma espécie de mataborrão. Ao seu contato, o Espírito amortece
as dores agudas da consciência e pode resgatar dívidas, reequilibrando-se para
o futuro. Mas, quando ainda no plano espiritual, se vê abismado em profunda
loucura, não pode, ao reencarnar, moldar um corpo normal e, assim, imprime na
sua formação genética as lesões gravíssimas, que vão resultar em corpos
defeituosos e incapacitados.
Nesses casos, não se pode esperar um desenvolvimento
pleno da personalidade atual, mas não devemos esquecer que essa expiação estará
servindo para a melhoria da personalidade espiritual. E essa personalidade
espiritual sempre pode ser atingida, se não pela comunicação verbal, certamente
pela linguagem do amor.
A superdotação é outro tema complexo, que é preciso
analisar com critério. Em primeiro lugar, deve-se tomar cuidado na
identificação de um superdotado, pois há muita superdotação artificial. Qualquer
criança, submetida a uma estimulação intensa, pode se revelar precoce. Aliás,
uma estimulação exagerada e unilateral pode causar distúrbios psíquicos e, como
ela é sempre feita por motivo de vaidade ou de interesse econômico dos adultos,
acaba por deformar a personalidade da criança.
Assim são os casos de músicos ou esportistas, por
exemplo, que desde a mais tenra idade sofrem um treinamento massacrante,
tornando-se exímios em certa atividade. Podem conquistar fama e dinheiro fácil,
mas são sempre pessoas profundamente desajustadas e infelizes, porque não se
desenvolveram de maneira natural e integral.
Quando legítima, ou seja, espontânea e não
provocada, a superdotação pode se revelar por um talento específico ou por uma
inteligência geral acima da média. Pode-se observar uma criança superdotada,
entre outros traços, pelo sue pensamento criativo, pela intensidade e
profundidade com que se envolve em assuntos de seu interesse, pela
superioridade geral de seu raciocínio em comparação com as crianças de sua idade
e, ainda, pela extrema facilidade em alguma área do conhecimento.
Faça-se porém importante parêntese: uma determinada
superdotação intelectual não implica necessariamente em evolução moral do
Espírito encarnado. Há muitos homens e mulheres que desenvolvem
predominantemente a inteligência, em detrimento das qualidade morais. Ao
renascerem, podem revelar esse desenvolvimento anterior desde cedo, mas nem por
isso possuem elevação moral. Aliás, muitas vezes até, são Espíritos
comprometidos com sérios desvios das Leis Divinas.
Poderíamos também falar de uma espécie de
superdotação moral, coisa nunca mencionada: são as crianças que revelam desde
cedo uma superioridade moral em relação ao meio – estas sim podem ser
consideradas como reencarnação de Espíritos avançados.
O desajuste emocional pode se manifestar em forma de
inquietação, agressividade, choro excessivo, medo, pesadelos, insônia e até
prejudicar o desenvolvimento físico e cognitivo. As causas do problema podem
ser as mais variadas. É preciso distingui-las.
Pela sua extrema maleabilidade psíquica, a criança
absorve facilmente os reflexos vibratórios e emocionais do ambiente. Diante de
um comportamento anormal de sua parte, deve-se antes de mais nada procurar as
causas na atmosfera psíquica que a cerca. Mesmo que os adultos não demonstrem
agressividade, desespero, angústia e outros sentimentos negativos e os
trancafiem dentro de sim nem por isso as crianças, desde o berço, deixam de
senti-los, de captá-los e de manifestá-los, se eles existirem no íntimo das
pessoas que as acompanham.
Não só o estado emocional explícito ou embutido dos
adultos, mas igualmente atitudes e orientação educacional inadequadas em
relação á própria criança produzem desajustes emocionais profundos: por
exemplo, tapas, gritos, repreensões severas ou indiferença, rejeição e
abandono... Esses fatores foram largamente estudados por várias correntes
psicopedagógicas. Aqui nem nos referimos às aberrações, infelizmente não tão
raras, como o abuso sexual e pancadaria – que obviamente chegam a abalar a
personalidade da criança por toda a vida e talvez até além.
Outras condições, muito comuns em nossa sociedade
atual, também podem ser causa de anormalidades emotivas numa criança: o
impedimento de dar livre curso à sua criatividade, à sua energia física e
psíquica, o viver sempre em ambientes fechados, onde não possa mexer em nada,
levando uma vida muito contrária à sua natureza expansiva e criadora; excesso
de atividades passivas, como as desenvolvidas nas escola atual, muitas horas de
televisão por dia, contato com literatura e cinema de conteúdo violento ou
pornográfico, ou mesmo experiências vividas nestes setores etc.
Mas existem também causas espirituais. As crianças
podem revelar desde cedo desequilíbrios emocionais, trazidos do passado, ou
podem ainda sentir influências negativas de Espíritos obsessores, ligados a ela
e à família. Entretanto, só se pode identificar com toda a certeza se um
desequilíbrio emotivo provém dela própria ou de Espíritos perturbadores, quando
as causas ambientais estiverem eliminadas. Ou seja, em uma criança que vive num
ambiente saudável, alegre, tranquilo, onde sejam cultivadas a prece, conversas
elevadas, limpeza material e moral e ainda assim persistirem os desajustes,
então eles serão de fato originários dela própria. Mas todo esse ambiente
positivo é o primeiro requisito de qualquer terapia.
Fonte: INCONTRI, Dora. A Educação Segundo o Espiritismo. Bragança Paulista: Editora Comenius, 2006.
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