O adolescente e o namoro
Na
fase da adolescência, a atração sexual é portadora de alta carga de magnetismo.
Surge, inesperadamente, a necessidade de intercâmbio afetivo, que o jovem ainda
não sabe definir. Os interesses infantis são superados e as aspirações
acalentadas até então desaparecem, a fim de cederem lugar a outras motivações,
normalmente através do relacionamento interpessoal. Os hormônios, amadurecendo
e produzindo as alterações orgânicas, também trabalham no psiquismo,
desenvolvendo aptidões e anseios que antes não existiam.
Nesse
momento, os adolescentes olham‐se surpresos,
observam as modificações externas e descobrem anseios a que não estavam
acostumados. São tomados de constrangimento numa primeira fase, depois, de
inquietação, por fim, de certa audácia, iniciando‐se as
experiências dos namoros.
Referimo‐nos
ao processo natural, sem as precipitações propostas pelas insinuações,
provocações e licenças morais de toda ordem que assolam o mundo juvenil, conspirando
contra a sua realização interior.
Estimulados
por essa falsa liberdade, mentalmente alertados antes de experimentarem as
legítimas expressões do sentimento, atiram‐se na desabalada
busca do sexo, sem qualquer compromisso com a emoção, transtornando‐se
e perdendo a linha do desenvolvimento normal, passo a passo, corpo e mente.
Prematuramente
amadurecidos, perdem o controle da responsabilidade e passam a agir como
autômatos, vendo, no parceiro, apenas um objeto de uso momentâneo, que deve ser
abandonado após o conúbio, a fim de partir na busca de nova companhia, para
atender a sede de variação promíscua e alienadora.
O
namoro é uma necessidade psicológica, parte importante do desenvolvimento da
personalidade e da aprendizagem afetiva dos jovens, porquanto, na amizade pura
e simples são identificados valores e descobertos interesses mais profundos,
que irão cimentar a segurança psicológica quando no enfrentamento das responsabilidades
futuras.
Trata‐se
de um período de aproximação pessoal, de intercâmbio emocional através de
diálogos ricos de idealismos, de promessas — que nem sempre se cumprem, mas que
fazem parte do jogo afetivo — e sonhos, quando a beleza juvenil se inspira e produz.
As
artes, em geral, a literatura, a poesia, a estética descobriram na afetividade juvenil
suas verdadeiras musas, que passaram a contribuir em favor do enriquecimento da
vida, através das lentes róseas dos enamorados. Todo um mundo dourado e azul, trabalhado
nas estrelas e no luar, no perfume das flores e nos favônios dos entardeceres, aparece
quando os jovens se encontram e despertam intimamente para a afetividade.
O
recato, a ternura, a esperança, o carinho e o encantamento constituem as marcas
essenciais desses encontros abençoados pela vida. As dificuldades parecem destituídas
de significado e os problemas são teoricamente de soluções muito fáceis, convidando
à luta com que se estruturam para os investimentos mais pesados do futuro.
O
desconhecimento do corpo e a inexperiência da sua utilização, nesse período, cedem
lugar a um descobrimento digno, compensador, que predispõe aos relacionamentos
tranquilos, estimulantes.
Igualmente
nesse curso do namoro se identificam as diferenças de interesse, de comportamento
psicológico, de atração sexual e moral, cultural e afetiva.
O
adolescente, às vezes, encantador, que desperta sensualidade nos outros, no convívio
pode apresentar‐se frívolo, vazio de idealismo,
desprovido de beleza, que são requisitos de sustentação dos relacionamentos, e
logo desaparece a atração, que não passava de estímulo sexual sem maior significado.
Quando
o namoro derrapa em relacionamento do sexo, por curiosidade e precipitação, sem
a necessária maturidade psicológica nem a conveniente preparação emocional,
produz frustração, assinalando o ato com futuras coarctações, que passam a criar
conflitos e produzir fugas, gerando no mundo mental dos parceiros receios injustificáveis
ou ressentimentos prejudiciais. Não raro, esses choques levam a práticas indevidas
e preferências mórbidas, que se transformam em patologias inquietantes na área
do comportamento sexual.
É
natural que assim suceda, porque o sexo é departamento divino da organização
física, a serviço da vida e da renovação emocional da criatura, não podendo ser
usado indiscriminadamente por capricho ou por mecanismos de afirmação da polaridade
biológica de cada qual.
O
indivíduo tem necessidade de exercer a função sexual, como a tem de alimentar‐se
para viver. Não obstante essa função, porque reprodutora, traz antecedentes
profundos fixados nos painéis do Espírito, arquivados no inconsciente, que não
interpretados corretamente se encarregam de levá‐lo a transtornos
psicóticos significativos.
O
período do namoro, portanto, é preparatório, a fim de predispor os adolescentes
ao conhecimento das suas funções orgânicas, que podem ser bem direcionadas e
administradas sem vilania, mantendo o alto padrão de consciência em relação ao
seu uso.
As
carícias se encarregam de entretecer compensações afetivas e preencher lacunas
do sentimento, traduzindo a necessidade do companheirismo, da conversação, da troca
de opiniões, do intercâmbio de aspirações.
O
mundo começa também a ser descoberto e programas são delineados, nesse comenos
afetuoso, tendo em vista a possibilidade de estar próximo do ser querido e com ele
compartir dores e repartir alegrias.
As
dificuldades e conflitos íntimos, face à aproximação afetiva, são debatidos e buscam‐se
fórmulas para superá‐los e resolvê‐los.
Um
auxilia o outro e abrem‐se os corações, pedindo auxílio
recíproco. Quando isso não ocorre, há todo um jogo de mentiras e aparências que
não correspondem à realidade, e cada um dos parceiros pretende demonstrar
experiências que não consolidou, e que se encontram na imaginação, como
decorrência de informações incorretas ou de usos inadequados, que exalta,
tornando‐se agressivo e primário, sem a preocupação
de causar ou não trauma no parceiro.
Merece
considerar, também, que nessa fase, o jovem desperta para as suas faculdades
paranormais, suas inseguranças e ansiedades estão em desordem, propiciando,
pela natural lei de causa e efeito, a aproximação de antigos comparsas, que procedem
de reencarnações passadas e agora se acercam para darem prosseguimento a infelizes
obsessões, particularmente na área sexual.
Grande
número de adversários espirituais é constituído de afetos abandonados, traídos,
magoados, infelicitados, que não souberam superar o drama e retornam esfaimados
de paixões negativas, buscando aqueles que lhes causaram danos, a fim de se
esforçarem, investindo, desse modo, furiosos e cruéis, contra quem lhes teria prejudicado.
Esse
é um capítulo muito delicado, que não pode ser deixado à margem, merecendo
análise especial.
Assim,
o namoro preenche a lacuna da imaturidade e propicia renovação psicológica e
conforto físico, sem ardência de paixão, nem frustração amorosa antes do tempo.
Fonte:
Franco, Divaldo P., pelo espírito Joana de Angelis. Adolescência e Vida. Disponível em http://www.luzespirita.org.br/leitura/pdf/L102.pdf