SUICÍDIO
NA ADOLESCÊNCIA
O suicídio é um suposto meio de fugir
dos sentimentos de impotência ou de incapacidade de solucionar conflitos e
situações problemáticas. Um tipo de comportamento em que se busca encontrar uma
“chave de ouro” para as dificuldades existenciais; e ele surge então como a
única via possível.
Significa um pedido de ajuda, um grito
de aflição e de desespero.
Ela é a expressão de um desejo de
mudança, uma vontade de acabar com a situação infeliz cuja única saída está
aparentemente bloqueada. A propósito, a intencionalidade, na maioria das vezes,
é mudar – não pôr fim à vida.
O autocídio na adolescência é um
acontecimento nefasto e que cresce de modo progressivo; ocupa um expressivo
lugar na escala de causas da mortalidade juvenil, segundo as estatísticas
atuais.
A taxa de suicídio na mocidade é
subestimada, pois só se leva em conta os números oficializados pelas
autoridades competentes (suicídios públicos e evidentes), deixando de lado as
chamadas “mortes acidentais”: acidentes automobilísticos, corridas de carro não
autorizadas (“rachas”), os popularmente chamados “cavalos de pau”,
“roletas-russas” e outros tantos.
Esses “acidentes fatais” representam,
inúmeras vezes, suicídios indiretos, em que o indivíduo, incapaz de concretizar
atos destrutivos conscientemente, os faz em níveis mais profundos da
inconsciência. Podemos dizer que há um “desejo de morte” sem que exista uma
intenção clara de morrer.
Atividades perigosas e impulsos insanos,
não obstante claros e evidentes fora de nós, começam em nós e se nutrem de nós
mesmos.
A adolescência é um das fases mais
favoráveis à atitude suicida. É importante salientar que é um espaço de tempo
onde ocorrem mudanças consideravelmente profundas. Na juventude, a garantia e
segurança da infância foram deixadas de lado para que se possa entrar no mundo
novo do adulto.
O adolescente quer ser livre, embora
dependa, em muitas situações, dos parentes, sobretudo dos pais. Sua aparência
física se transforma e ele perde o referencial, sente-se desajeitado,
atrapalhado, se graça e incapacitado de atrair. Uma modificação do “eu
consciencial” advém dessas mudanças corporais e emocionais.
No aspecto sexual, ele tem que discernir
sua identidade sexual para poder estabelecer relação com o outro, o que o faz
gastar muita energia. Seu campo emocional é intenso, tudo está em constante
avaliação: os relacionamentos, a estrutura física, as muitas exigências sobre
ele e consigo próprio. Todas essas alterações são complicadas e de difícil
assimilação.
Obviamente, o livre-arbítrio nos dirige
as resoluções em todas as áreas da vida, contudo é necessário observar que o
abandono dos compromissos assumidos ante a Vida Maior é sempre lamentável,
porque, se na esfera de ação que vivemos atualmente, surgem problemas a
suplantar, esses mesmos obstáculos negligenciados poderão reaparecer com a
mesma intensidade noutros ambientes do porvir.
O jovem com ideias suicidas se vê
sinistro, perverso e incriminável. Ele ainda não se contenta com seu modo de
ser e demonstra não ter confiança em seus atos e julgamentos.
Qual a causa do suicídio na
adolescência? Dar uma resposta simples e sintética para essa questão complexa
nos parece impróprio.
Somos de parecer que a causa do suicídio
juvenil não pode ser encontrada de modo apressado e irrefletido, e sim em seu
histórico pregresso, nos problemas vivenciados nas existências passadas, nos
conflitos recentes da infância, nos processos obsessivos e auto-obsessivos e
outras tantas tribulação existenciais. É bom lembrar que não existe processo
obsessivo contra a vontade ou sem a permissão de alguém; atraímos ou repelimos
ondas mentais que se juntam às nossas, edificando-nos para a saúde ou para
enfermidade.
É como se houvesse um escalonamento de
dificuldades que há muito foram se justapondo até alcançar a fase da adolescência.
Então, uma última dificuldade pode ser a
gota d’água para desencadear a crise e a tentativa de suicídio. Todavia, é
preciso dizer que nem sempre uma crise acaba conduzindo ao suicídio; ela pode
levar a criatura a passar “do verde ao maduro”, ou seja, da infantilização à
madureza, onde encontrará capacidade de agir, refletir ou realizar qualquer
coisa de maneira racional, equilibrada e sensata.
Seres existem tão conturbados
além-túmulo, com dificuldades decorrentes do suicídio, que necessitam de internação
quase que imediata no organismo físico para tratamento da desarmonia interior
que o motivou ao gesto desvairado.
“(...) A propagação das ideias materialistas é, pois, o veneno que inocula, em
um grande número, o pensamento do suicídio, e aqueles que se fazem seus
apóstolos assumem sobre si uma terrível responsabilidade. Com o Espiritismo,
não sendo mais permitida a dúvida, o aspecto da vida muda; o crente sabe que a
vida se prolonga indefinidamente além do túmulo, mas em outras condições; daí a
paciência e a resignação que afastam, muito naturalmente, o pensamento do
suicídio (...)[1]
Na realidade, não podemos esquecer que
existem muitas lendas e mitos a respeito do suicídio. Entre eles, afirma-se que
ou é covarde ou é corajoso. Na realidade ele deseja apenas parar de sofrer. Não
atenta contra sua vida por covardia ou coragem, mas porque sua existência se
tornou insuportável e ele, alienado, não vislumbra de imediato outra solução.
Enfim, os “suicidas” carecem mais de
mãos estendidas – cuidado, acolhimento e atenção – do que de mãos de ferro –
crítica, censura e punição.