OS
PERIGOS DAS PROJEÇÕES
As principais causas que levam uma
criança ou um adolescente à psicoterapia são a excessiva proteção ou a rejeição
praticadas no ambiente familiar. Ambas afetam a sua auto-estima, gerando
transtornos tanto para pais quanto para filhos. Geralmente, a rejeição ou a
superproteção estão relacionadas a um processo projetivo (ato de atribuir a uma
pessoa, animal ou objeto as qualidades, sentimentos ou intenções que se
originam em si próprio) originando em um ou ambos os pais, cujas causas,
transcendendo as fundamentadas na teoria psicanalítica, podem estar
relacionadas a conteúdos inconscientes adquiridos ao longo das encarnações.
O que tentamos focalizar aqui, é que,
com freqüência, a criança ou adolescente podem não ser a causa mas a
conseqüência de uma problemática familiar ou individual mais profunda e, por
parecer mais vulnerável, pode tornar-se vítima de um problema que
conscientemente não gerou. O mesmo raciocínio pode também ser aplicado em
processos obsessivos infantis, apesar de não ser este o nosso objeto de estudo.
Pretendemos, pois, abordar aqui, alguns
sentimentos ou condutas apresentadas por um ou ambos os pais que podem ser o
gerador de conflitos de seus filhos. Falaremos de forma sucinta sobre cada um
deles, que, dependendo do caso podem aparecer individual ou simultaneamente nas
inter-relações familiares.
Mudança
de Status:
Refere-se ao medo de perda da importância ou do amor dos filhos. É preciso
compreender de antemão que tudo muda, inclusive a visão de nossos filhos sobre
nós, além de seus sentimentos. O que na deve mudar é o respeito. Nunca seremos
os eternos heróis, exemplos ou modelos de nossos filhos. Precisamos respeitar e
até incentivar, de maneira desprendida, a sua liberdade de escolha e de
sentimentos. Haverá momentos em que nossas crianças crescerão, deverão assumir
as rédeas do seu destino e passarão a incorporar novos valores, afetos, e
planos sem que necessariamente estejamos incluídos neles. Lembre-se que mais do
que amigo(a), você já é mãe ou pai de seu filho e esse papel é único,
privilegiado e intransferível! Amar, lembre-se, é tornar o Outro independente.
Isso denota maturidade e amor verdadeiro. Procure solidificar sua autoconfiança.
Ame-se, abasteça-se com suas próprias alternativas de felicidade, para não
delegar ao Outro a responsabilidade de fazê-lo(la) feliz. Isso é puro egoísmo.
Sacrifício: O sacrifício é
decorrente de um processo masoquista e ocorre com pessoas que não pesam
responsavelmente suas escolhas. Ter filho não é “padecer no paraíso”, não é uma
cruz a ser carregada, é simplesmente o resultado de uma escolha que nos foi
permitida para possibilitar o nosso crescimento evolutivo e o de outro Ser.
Precisamos acabar com a idéia de utilizarmos o sofrimento como remissão de
nossa culpa. Ele é apenas o resultado de erros de percurso e que nos sinalizam
para o caminho reto. Outra coisa a lembrar: todo sacrifício subtende uma troca
(na cabeça do que se sacrifica) isso é, novamente, egoísmo. “Quando temos um
filho é para ter o prazer dessa experiência inigualável, e esse prazer –
devemos saber de antemão – não sai de graça. Nem financeira nem afetivamente.”
Amor dado não é amor cobrado, senão não é amor. Procure autosustentação
afetiva.
Inveja: A inveja tem,
como origem, a antigas frustrações e fracassos não resolvidos e interiorizados.
Pode parecer cruel mas, queiramos ou não, podemos invejar nossos filhos na sua
juventude beleza, energia e habilidades que podem ser até bem maiores que as
nossas. Precisamos perceber as pessoas com as quais convivemos como seres em
diferentes níveis de evolução e objetivos. A harmonia nas relações sociais
somente se dará quando conseguirmos aprender a conviver com as diferenças.
Evite entrar em guerra de poder com o seu filho, onde a crítica, e o
cerceamento de liberdade são as mais contundentes provas de inveja. Muitas
vezes, também, projetamos nas nossas relações incômodo, da crítica ou
maledicência para com o comportamento alheio, o que não implica em inveja, mas
no espelhamento daquilo o que vemos no Outro e que rejeitamos em nós, mas não
conseguimos nos conscientizar ou mudar. Por exemplo, uma pessoa autoritária não
suporta conviver cm outra, por, apesar de não reconhecerem, serem iguais.
O
ciúme:
De origem semelhante à inveja, o ciúme atinge geralmente todo alvo de desejo de
nossos filhos que não sejamos nós. Como na inveja, é necessário respeitar e
reconhecer as vontades, escolhas e diferenças do Outro. Precisamos amadurecer e
procurar autoconfiança suficiente para não sufocar nossos filhos e roubar-lhes
o sentido da vida. Com bastante critério e isenção devemos avaliar se o nosso
objeto de preocupação (ciúme) justifica e traduz um perigo real ou é mero
resultado de projeções pessoais.
A
ansiedade:
A ansiedade é um sentimento difuso que provem do medo da desagregação, da
perda, principalmente afetiva. É natural e até necessário preocupar-se com os
filhos e temer por sua saúde, segurança, formação de caráter, etc. O problema
reside nos excessos. Precisamos analisar se não estamos exagerando nessa
dosagem de cuidados e afetos. Muitas vezes transferimos para as nossas crianças
os medos e receios de nossa criança interior; no fundo, não é ao nosso filho
que visamos proteger, mas a nós mesmos.
O
perfeccionismo:
Oculta uma necessidade de aceitação e medo de rejeição. O perfeccionista sofre
e faz sofrer quem com ele convive. Ele geralmente assemelha-se ao ansioso no
tocante aos cuidados excessivos, só que o ansioso não sabe quem ou o que teme.
O perfeccionista tem a desaprovação alheia, o que o induz ao autoritarismo,
orgulho e vaidade. O perfeccionismo geralmente é crítico e vive em um mundo
irreal, que não pode ser desestruturado. Geralmente inautêntico, impede a
espontaneidade dos filhos visando a aprovação pública através de uma conduta
perfeita, tornando-os submissos, pouco originais e acomodados. Os excessos com
limpeza, organização, alimentação, bons-modos, contenção de sentimentos e
emoções não revelam desvelo e competência, mas uma necessidade narcísica de
aprovação e elevação social, bem como um intenso medo de enfrentar suas
próprias limitações e desconhecimento de suas reais possibilidades.
Repressão/Agressividade: Toda repressão
é uma forma de agressividade na medida em que impede o livre fluir do Outro.
Não se prega aqui a liberação de instintos, mas a sua educação e transformação
em energias mais nobres. Devemos incentivar a busca da autenticidade de nossos
filhos para que tornem-se mais conscientes de suas necessidades e possibilidades
evolutivas.
Egoísmo: É o provedor e
mantenedor de todas as demais projeções. É o que destitui da maternidade ou
paternidade a sua essência divina. Ter filhos, enfim, não é padecer no paraíso
mas ter o paraíso dentro de si. Cultive a simplicidade, o bom humor, a
paciência e o equilíbrio. Perdoe-se, cresça e permita o mesmo às pessoas á sua
volta.
Lembremo-nos que todas as nossas
atitudes e sentimentos refletir-se-ão com uma grande intensidade na vida de
nossos filhos, reforçando desequilíbrios ou desenvolvendo virtudes, dependendo
de um encaminhamento saudável ou não. Por imitação ou oposição nosso exemplo
será referência para o que nossos filhos se tornarão como pais e cidadãos do
mundo. Não veja para crer. Creia para ver.
Fonte: BARRRETO, E. F. P.; CARNEIRO, T. M. F. (organizadoras) Guia útil dos pais: Uma Abordagem Educacional Espírita. 2ª Edição – Fortaleza – CE: Edições GEPE – Grupo Espírita Paulo e Estevão, 2004.
Um comentário:
Uma reflexão importante para que não deixemos de herança para os nossos filhos as nossas feridas espirituais.
Paz e bem
Dário
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