Um
giro na memória de nossa infância e de tantos amigos nos leva a pensar no relacionamento
que tínhamos com nossos pais e no que temos hoje com nossos filhos. Era um
tempo em que a tecnologia não estava tão presente e a vida de trabalho era
menos agitada. Poucas famílias tinham mais de um automóvel. O que tínhamos de
eletrodomésticos fora da cozinha eram a televisão e o aparelho de som "3
em 1" (que tocava músicas do rádio, dos discos de vinil e das fitas k7
magnéticas). As crianças viviam mais soltas e as brincadeiras, na rua ou na área
rural, eram diárias e coletivas. À noite, tínhamos tempo para curtir histórias
de reis e lendas encantadoras. Possivelmente desfrutávamos melhor a aventura de
ser criança. Era uma grande alegria quando o papai brincava conosco e nos
concedia o seu precioso tempo. Era uma felicidade sem medidas receber o calor
do aconchego da mamãe com seu olhar cheio de dedicação e afeto. Talvez não
compreendíamos bem a insistência dos nossos pais ao nos querer "formar
para a vida adulta" que viria, mas nos interessávamos pelas dicas de como
construir o nosso futuro, em pensar no que seríamos quando crescêssemos. E, por
mais que tenhamos ajudado nas tarefas domésticas, nunca teremos a verdadeira
noção do quanto nossos pais batalharam para nos dar uma vida melhor, para
garantir nossa alimentação, saúde, estudo... A grande diferença é que, nos
tempos atuais, se nós, pais e mães, trabalhamos para oferecer uma vida
confortável a nossos filhos e acabamos por ter pouco tempo para estar com eles,
o vácuo de relacionamentos acaba sendo preenchido pela TV, pela internet, pelo
celular e pelo "ipod" ou pelo "mp4", que lhes tampam os
ouvidos para a realidade ao redor. Além disso, com os vários eletrodomésticos
que reduzem as tarefas da casa, é inevitável que os filhos de hoje
vivam uma rotina mais acomodada e individualizada, tendo a impressão de que o
futuro já está garantido, que a vida depende muito do esforço pessoal e que os
pais não têm mais tanto a oferecer. Nesse contexto nós, pais, podemos nos
deixar levar pela idéia de que não temos mais o que dizer aos nossos filhos. Se
temos vontade de conversar com eles, há o receio de parecermos ultrapassados ou
de não saber como entrar no mundo deles. Mas, no nosso íntimo, sabemos que nada
pode substituir o convívio da família, e o quanto a figura dos pais, sua
presença e atenção são importantes, ainda que não plenamente reconhecidas. Sua
experiência, seu exemplo e seus conselhos são valiosíssimos. Sabemos dos
inúmeros casos em que os pais garantem um patrimônio considerável a seus
filhos, mas quando morrem, em pouco tempo esses filhos, que não se preocupavam
com o próprio sustento, logo consomem tudo o que receberam e passam a levar uma
vida cheia de dificuldades. Entretanto, mesmo nestes novos tempos, a questão é
essencialmente a mesma: valorizar os relacionamentos. Então, preparar os filhos
para a vida implica no envolvimento deles nas atividades familiares, mesmo que
isso tome mais tempo: fazer juntos as compras, manter a casa em ordem e a
cozinha sempre limpa. A independência deles deve ser construída. Se da parte de
nossos filhos talvez falte o devido reconhecimento, devemos aperfeiçoar nosso
conceito de formação, de autoridade responsável pela educação deles. Consideraremos
melhor as verdades que eles têm a nos dizer, muitas vezes luminosas. Teremos facilidade
para pedir-lhes desculpas, se necessário. Seremos mais simples, mais felizes,
dispostos a aprender algo de novo nessa missão. Teremos paciência e amor. Se
fizermos isso, poderemos alcançar a meta de sermos urna edição aprimorada de
nossos pais.
(José
e Margarete Daldegan - Revsita Cidade Nova - p. 38 - Agosto 2012)
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