quarta-feira, 3 de outubro de 2012

PAIS EM NOVOS TEMPOS


 Um giro na memória de nossa infância e de tantos amigos nos leva a pensar no relacionamento que tínhamos com nossos pais e no que temos hoje com nossos filhos. Era um tempo em que a tecnologia não estava tão presente e a vida de trabalho era menos agitada. Poucas famílias tinham mais de um automóvel. O que tínhamos de eletrodomésticos fora da cozinha eram a televisão e o aparelho de som "3 em 1" (que tocava músicas do rádio, dos discos de vinil e das fitas k7 magnéticas). As crianças viviam mais soltas e as brincadeiras, na rua ou na área rural, eram diárias e coletivas. À noite, tínhamos tempo para curtir histórias de reis e lendas encantadoras. Possivelmente desfrutávamos melhor a aventura de ser criança. Era uma grande alegria quando o papai brincava conosco e nos concedia o seu precioso tempo. Era uma felicidade sem medidas receber o calor do aconchego da mamãe com seu olhar cheio de dedicação e afeto. Talvez não compreendíamos bem a insistência dos nossos pais ao nos querer "formar para a vida adulta" que viria, mas nos interessávamos pelas dicas de como construir o nosso futuro, em pensar no que seríamos quando crescêssemos. E, por mais que tenhamos ajudado nas tarefas domésticas, nunca teremos a verdadeira noção do quanto nossos pais batalharam para nos dar uma vida melhor, para garantir nossa alimentação, saúde, estudo... A grande diferença é que, nos tempos atuais, se nós, pais e mães, trabalhamos para oferecer uma vida confortável a nossos filhos e acabamos por ter pouco tempo para estar com eles, o vácuo de relacionamentos acaba sendo preenchido pela TV, pela internet, pelo celular e pelo "ipod" ou pelo "mp4", que lhes tampam os ouvidos para a realidade ao redor. Além disso, com os vários eletrodomésticos que reduzem as tarefas da casa, é inevitável que os filhos de hoje vivam uma rotina mais acomodada e individualizada, tendo a impressão de que o futuro já está garantido, que a vida depende muito do esforço pessoal e que os pais não têm mais tanto a oferecer. Nesse contexto nós, pais, podemos nos deixar levar pela idéia de que não temos mais o que dizer aos nossos filhos. Se temos vontade de conversar com eles, há o receio de parecermos ultrapassados ou de não saber como entrar no mundo deles. Mas, no nosso íntimo, sabemos que nada pode substituir o convívio da família, e o quanto a figura dos pais, sua presença e atenção são importantes, ainda que não plenamente reconhecidas. Sua experiência, seu exemplo e seus conselhos são valiosíssimos. Sabemos dos inúmeros casos em que os pais garantem um patrimônio considerável a seus filhos, mas quando morrem, em pouco tempo esses filhos, que não se preocupavam com o próprio sustento, logo consomem tudo o que receberam e passam a levar uma vida cheia de dificuldades. Entretanto, mesmo nestes novos tempos, a questão é essencialmente a mesma: valorizar os relacionamentos. Então, preparar os filhos para a vida implica no envolvimento deles nas atividades familiares, mesmo que isso tome mais tempo: fazer juntos as compras, manter a casa em ordem e a cozinha sempre limpa. A independência deles deve ser construída. Se da parte de nossos filhos talvez falte o devido reconhecimento, devemos aperfeiçoar nosso conceito de formação, de autoridade responsável pela educação deles. Consideraremos melhor as verdades que eles têm a nos dizer, muitas vezes luminosas. Teremos facilidade para pedir-lhes desculpas, se necessário. Seremos mais simples, mais felizes, dispostos a aprender algo de novo nessa missão. Teremos paciência e amor. Se fizermos isso, poderemos alcançar a meta de sermos urna edição aprimorada de nossos pais.

(José e Margarete Daldegan - Revsita Cidade Nova - p. 38 - Agosto 2012)

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